sexta-feira, 28 de maio de 2010

Profissão: Arquivologia

Profissão: Arquivologia

Lorena Caliman | A Tarde On Line

“A profissão é regulamentada há muitos anos, desde 1968. Porém, só em 1998 começamos a ter o curso de Arquivologia na Bahia”. O contexto social apresentado pela professora Aurora Freixo, coordenadora do curso na Universidade Federal da Bahia (Ufba), esclarece um pouco o por quê de tanta gente desconhecer ou ter curiosidade sobre o que é e o que faz um profissional do ramo. É comum ouvir pessoas confundindo o papel do bibliotecário com o do arquivista. Mas para quê serve o profissional especializado em arquivos, afinal?

“A gente é multiuso”, diz o graduando em Arquivologia no Instituto de Ciências da Informação (ICI) da Ufba Rafael Botelho, 26, que trabalha no Arquivo Público da Bahia na área de Tecnologia da Informação. Um dos pontos fortes do curso, destacado por ele e por suas colegas Fernanda Linhares, 22, e Lorena Macambira, 21, é exatamente o leque de opções de trabalho para o profissional. Restauração de documentos, gerenciamento de conteúdo, consultoria, transcrição de arquivos, avaliação de documentação das organizações, levantamento de dados e indexação são algumas das funções lembradas por eles.

Para isso, o estudante precisa ter algumas características específicas, como enumera a coordenadora do curso: organização, saber lidar com tecnologias, ter consciência da responsabilidade da profissão, senso crítico e boa capacidade de criar e executar políticas de gerenciamento.

Muitas dessas funções acabavam sendo exercidas pelos bibliotecários, lembra a professora Aurora. Porém, nos últimos anos o que se tem percebido é um crescimento da área no que diz respeito à procura de profissionais especializados em lidar com arquivos, seja em empresas públicas ou privadas.

Formação – O curso da Ufba recebeu um novo projeto pedagógico no ano de 2009, passando a contar com uma nova carga horária, mais flexível, para que os alunos possam criar sua própria trajetória dentro da graduação. Com a mudança, foi diminuída a quantidade de disciplinas obrigatórias e aumentada a de optativas. O curso é feito num mínimo de quatro e máximo de oito anos. A graduação da Universidade Federal da Bahia é a única disponível no estado e dispõe de 90 vagas por ano: 45 para o turno matutino e 45 para o noturno, este último tendo sido criado recentemente, com o advento do Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni).

Quando ingressou no ICI, Fernanda Linhares não sabia muito bem se o curso ia lhe agradar: segundo conta, ela na verdade gostaria, na época, de cursar Jornalismo. Na primeira tentativa, Fernanda não conseguiu a aprovação. No ano seguinte, quando estava para se decidir o que faria, uma tia sua que estava perto de se formar em Arquivologia a aconselhou a pesquisar sobre o curso e tentar ingressar nele. Isso porque a concorrência era menor no vestibular e a estudante achava que não teria tempo suficiente para dedicar aos estudos, já que estava trabalhando.

Como conta Aurora, muitos estudantes entram no curso sem conhecer muito bem a profissão e quando começam a conhecer, muitos acabam se encantando com as possibilidades da área. Foi o que aconteceu com Fernanda. Ela lembra que logo no primeiro semestre, uma professora fez com que os alunos pesquisassem bastante sobre Arquivologia, o que levou-os a entender melhor com o que iriam lidar. “Me apaixonei e não quero mais fazer outra coisa na vida”, conta.

Já sua colega, Lorena Macambira, fez um percurso um pouco diferente: foi pesquisando sobre o programa curricular do curso de História no site da Universidade Católica do Salvador (Ucsal) que ela encontrou uma disciplina de Arquivologia. Ficou curiosa, pesquisou, achou a proposta interessante e descobriu que havia a graduação na Ufba. Fez o vestibular e passou, ingressando no mesmo semestre que Fernanda. Hoje, as duas atuam no Diretório Acadêmico do Instituto de Ciências da Informação e estão no quinto semestre.

Mercado – Nos últimos anos, houve um grande crescimento na quantidade de informação produzida e nas formas de se trabalhar com ela, sobretudo com o alcance da internet. Isso repercutiu na profissão e na valorização do arquivista, resultando em maior quantidade de oportunidades oferecidas para trabalhar na área. “Hoje, o setor público é o que mais tem aberto espaços para o arquivista. Tem disponibilizado muitas vagas, sobretudo em nível federal”, relata Aurora.

Apesar disso, ainda há a questão de que pessoas de fora da área continuam trabalhando no papel de arquivistas nas instituições, dificultando o ingressos dos profissionais especializados. Persiste, também, um certo desconhecimento em relação às áreas em que um profissional como esse pode atuar: para Rafael Botelho, que durante todo o período da sua graduação voltou suas atenções à área da Tecnologia da Informação, as empresas não veem o arquivista como alguém que possa atuar nesse ramo, ainda que existam, na própria faculdade, disciplinas que ajudem a se especializar no assunto.

Além da graduação, Botelho chama a atenção para a possibilidade de os interessados participarem de cursos de extensão e mesmo uma pós-graduação numa área relacionada, como a que ele escolheu. “Hoje, mesmo que um documento exista em papel, a pesquisa é feita em formatos digitais”, pontua ele.

Regulamentação – Apesar do crescimento, algumas necessidades colocadas pelos arquivistas ainda não estão completamente satisfeitas, como a existência de um Conselho Federal. Segundo Lorena, que participa de um grupo de pesquisa relacionado a comunicação e política, as leis que regulamentam a profissão e o trabalho com os arquivos não são muito conhecidas por quem não é da área. Ou seja, os empresários que contratam arquivistas muitas vezes não dão a valorização necessária, até mesmo por não compreenderem a complexidade do trabalho. “Eles acham que a gente faz milagre”, brinca Rafael, referindo-se ao fato de que muitas empresas chamam arquivistas para trabalhar quando a situação do arquivo já está bem complicada.

Para Fernanda, que já atua na área estagiando no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), "as pessoas esquecem que a documentação é a vida da instituição". Segundo ela, muitos administradores de empresas não têm uma noção clara de como manter o acervo. “A conscientização [sobre a importância do arquivo] que há, hoje, dentro de algumas empresas é resultado de um trabalho árduo por parte dos arquivistas”. Para os alunos, isso é importante sobretudo por conta da responsabilidade: esses profissionais respondem diretamente pelo arquivo das instituições, inclusive no âmbito judicial.

Mesmo com a conhecida responsabilidade, os alunos do ICI ressaltam que o salário médio do profissional ainda não corresponde às expectativas. No site da Associação dos Arquivistas da Bahia (AABa), há uma recomendação de salários de base, que varia de acordo com o tempo de formação. Por exemplo, com até dois anos de graduado, o arquivista que trabalhe 40 horas semanais deve receber 4 salários mínimos; se tiver três ou mais anos de formado, a base sobe para 5 salários. Contudo, segundo Fernanda, a tabela ainda não é cumprida em todas as instituições.

Os pontos fortes da profissão apontados pelos alunos, contudo, superam eventuais insatisfações com a carência de regulamentação que ocorre em qualquer área que seja encarada como nova. A quantidade de concursos (que oferecem, inclusive, bons salários), a expansão da área e sua crescente visibilidade, o reconhecimento da importância do trabalho e a quantidade de opções de atuação continuam sendo os melhores motivos para um jovem ingressar nessa especialidade.

| Onde estudar |

Existem somente 14 cursos de Arquivologia no Brasil, sendo que o curso da Ufba é o primeiro do Norte e Nordeste.

Instituto de Ciência da Informação (ICI) – Universidade Federal da Bahia

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO

Universidade Federal Fluminense - UFF

Universidade Federal de Santa Maria - UFSM

Universidade Federal do Espírito Santo - UFES

Universidade de Brasília - UNB

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Universidade Estadual Paulista - UNESP/MARÍLIA

Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS

Universidade Estadual da Paraíba - UEPB

Universidade Federal do Amazonas - UFAM

Universidade Federal do Rio Grande - FURG

Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Universidade Federal Santa Catarina - UFSC

Fonte: Jornal A tarde. Acesso em 28/05/2010.

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